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segunda-feira, 4 de abril de 2011

A lua e eu


Mês de julho. Noite de lua cheia. Eu, na fazenda, saí a vagar sem rumo pelos caminhos estreitos e tortuosos, iluminados apenas pelos raios pálidos e dourados da eterna lua.
Perdido na imensidão da fazenda, meus pés caminhavam pelo barro molhado, enquanto minh’alma vagava pelos doces caminhos do sonho, mais perdida lá, do que eu naquele bosque.
Ouvia-se somente, além do vento, que provocava nas árvores um farfalhar de folhas ao balouçar dos galhos, o coaxar dos sapos na lagoa, grilos e corujas à beira do caminho.
Era uma noite, não sei se triste ou alegre, mas com certeza, imaginada pelo Criado, para o amor. Alguns pássaros noturnos deviam achá-la bem alegre, porém eu a sentia triste.
Andei, fitando a lua, por quanto tempo não sei. Ela sempre à minha frente, quanto mais eu andava mais ela se distanciava, e parecia chamar-me. Eu, como que apaixonado, ou atraído por aquele mudo apelo, cedia ao seu chamado, e caminhava.
De repente, e como, não sei explicar, um clarão apareceu no horizonte, atrás de mim. À minha frente, a lua abaixava entre as folhagens, lentamente... Logo após, eu já não a via, e o sol iluminava os campos.
Voltei para casa, cansado, e mais triste ainda que quando partira. Deitei-me e pensei em meu passeio. Eu vira, durante a noite, o céu e suas estrelas, os montes e suas vegetações, os caminhos que se encontravam com outros caminhos. Tudo com seu par, só eu a vagar sozinho. Eu, com uma lua distante... Por quê? Adormeci. Adormeci e sonhei... Com que? Sonhei talvez que era um astro, somente para no espaço, encontrar a lua e desvendar seus segredos.
O certo é que somente à noite resolvi outra vez passear, para admirar a lua, em sua paz, sugerindo o amor.
Mas outra vez saí sozinho, a ouvir a voz da natureza, e o triste e mudo apelo da solitária lua.
E estávamos sós... Eu e a lua.

Rio de Janeiro, 1965.
Publicado no jornal estudantil Repórter Eça, do Colégio Estadual Eça de Queiroz

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