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quarta-feira, 27 de novembro de 2013

O verde de Itaitinga

Lá pelos idos da década de 90, quando cheguei em Itaitinga, eu a podia chamar – e chamava – de cidade jardim, pois tínhamos sítios com plantas, árvores, frutas, pássaros nos quintais, com casarões no típico estilo nordestino, rodeado de varandas, convidativas para uma rede, na brisa amena da tarde.

A maioria de nossas ruas era com piso de areia, ou piçarra, somente as mais importantes tinham pavimentação em pedras toscas. Aliás, a pedra tosca estava presente até mesmo no logradouro mais importante, a então chamada Praça da Matriz, hoje Praça Maria Vidal de Sá Branco.

Percebe-se, por esta descrição inicial, que vim morar em um lugar bucólico, no bairro da Ponta da Serra, bem ao sopé da Serra de Itaitinga, lugar de clima agradável, onde de maio a julho, chegava a fazer frio nas madrugadas silenciosas. Eu a considerava um exemplo de cidade boa de viver, com excelente qualidade de vida.

Para cá eu trouxe, há vinte e dois anos, minha família, mulher e um filho. Depois, aqui, nasceu minha filha, já com dezenove anos. E, passados estes vinte e dois anos, o que vemos hoje na cidade? Uma cidade destruída e destruidora. Casas pequenas, apertadas, onde famílias vivem espremidas e espremendo seus magros orçamentos para pagarem a prestação da Caixa Econômica. Algumas casinhas pouco maiores, alguns sobradinhos simpáticos de pessoas com melhor renda. Casas mais antigas, dos primeiros moradores da urbe, vão abaixo, sem piedade, eliminando nossa memória, devido à sanha assassina e desenfreada do lucro pelo lucro em si, que domina a alma de alguns poucos construtores de plantão.

Quando aqui cheguei e subi a serra, não se avistava a cidade e seus telhados, todos encobertos por densa vegetação e pelas copas frondosas de grandes árvores. Hoje, subo a serra e avisto a cidade toda, a igreja, o Mercado Central, muitas casas e já não vejo tantas árvores. Até a serra está sendo destruída pelas pedreiras. E para onde vão os pássaros, os macaquinhos, as raposas, os veados, os tamanduás, pebas, cobras, e tantos outros animais, antes tão comuns? Eliminados, fazendo parte das estatísticas e das listas de animais em extinção.

Para que se preocupar com meio ambiente, não é mesmo? Isso é coisa sem importância nenhuma, dizem alguns, o progresso é assim. Já outros, mais conscientes e amantes da nossa Itaitinga, pensam o contrário. Eis aí a nossa Itaitinga: despojada de suas belezas naturais, com o sol parecendo estar cada vez mais quente nas costas de todos, a temperatura em elevação constante, estiagens cada vez mais prolongadas, trânsito no centro começando a ocasionar congestionamentos, qualidade de vida zero, insegurança para todos e, sem árvores.

O principal motivo deste meu desabafo é na realidade a árvore, nossas matas nativas. São muitas, diuturnamente tombadas pela ação das inúmeras motosserras clandestinas, sem licença ou fiscalização, trabalhando às escondidas, quase sempre aos domingos e feriados. Afinal, tem que ser escondido Vejo isso diariamente em ruas da cidade, em quintais, nas calçadas em frente às casas, ou até em praças, como na Luiz Gonzaga, onde uma construtora venceu uma licitação para reforma, e à pretexto de reformar derrubou incontáveis árvores de nossa outrora mais arborizada praça da cidade. E eram árvores antigas. Antigas, como um oitizeiro (Moquilea tomenthosa) e algumas até mesmo raras, como duas popularmente conhecidas como “mata fome” (Pithecelobium dulce).as únicas existentes no município!
Pergunto-me sempre, qual é a razão de tamanho desatino? Questiono-me. Ou será para não ter que limpar as calçadas que as árvores sujam com suas folhas e flores? Ou será que as pobres árvores estão mesmo morrendo por si? Porém aí pergunto, e onde estão as árvores novas, que não são plantadas imediatamente? Quando deixei a Secretaria de Meio Ambiente, pasta que ocupei de 2005 a 2008 deixei um horto municipal com cerca de cem mil mudas, prontas para o plantio. Mataram todas por falta de regas. Hoje, ao reassumir a mesma secretaria nada encontrei no horto. Nestes onze meses de governo já temos um horto com cerca de cinco mil árvores.

O fato é que derrubam árvores aqui por mil e um motivos. Porque sujam a calçada, para aumentar o estacionamento, como em frente a uma farmácia, porque se engancham nos fios da Coelce, porque pode cair sobre a casa e muito mais. Certamente, o amor pelas plantas ficou no passado.

Penso em outras cidades: João Pessoa, Natal e chego a suspirar com tanto verde. São Paulo, tão cosmopolita, que eliminou o verde, substituindo-o pelo concreto, mas que repentinamente se deu conta e construiu parques suntuosos, fenomenais e muitas árvores para a população ter sombra, ar puro e lazer. Rio de Janeiro, com inúmeros parques e a Floresta da Tijuca, a maior floresta urbana do mundo. Estou comparando mal ao comparar nossa pequenina Itaitinga com cidades grandes? Vejam o verde da pequena e simpática Pacatuba, no Ceará mesmo. Ainda por aqui, vejam Meruoca, São Benedito, Ubajara e seu Parque Nacional, Pacoti, Redenção e tantas outras.

É hora de acordarmos! Temos que mudar muito a nossa cidade, mudar muito a consciência ecológica de nossa população, ao invés de simplesmente derrubarmos nosso patrimônio arbóreo.

Plantar, plantar sempre!