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quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Adoção de animais. E as crianças?


Cada dia mais comum nos noticiários da grande mídia, fatos que mostram crianças recém nascidas, abandonadas pela mãe. Há mães que fogem da maternidade deixando lá o próprio filho abandonado, que será encaminhado para uma instituição e talvez consiga adoção. Adoção difícil, nos casos de crianças negras ou portadoras de deficiências.
Para falar apenas de casos recentes, vimos mãe que descartou o filho, dentro de uma sacola de supermercado, atirando-o em um terreno, por cima do muro. Outro foi jogado no lixo, em um container, numa esquina qualquer. Crianças em sacos plásticos foram atiradas em lagoas e sobreviveram, porque o saco fechado, contendo ar, não afundou e foi encontrado por alguém. Houve uma que vendeu o filho por sessenta reais e uma cesta básica! Crianças institucionalizadas são cada vez mais comuns, e as instituições sem fiscalização, nem sempre as tratam com dignidade e respeito.
Vejo com certa preocupação os mil e um apelos nas redes sociais, para que adotemos animais de rua. Referem-se aos cães de rua, como anjinhos, que precisam de nossa proteção. Nada contra. Tenho em casa seis cães, e quatro foram “adotados” diretamente das ruas, ou da casa de amigos que iam descartá-los. Nunca vi nas mesmas redes sociais um apelo em favor de crianças de rua, para que alguém se sensibilize e adote estes anjinhos!
Ainda nas redes sociais vi um casal de São Paulo, passando final de semana no Guarujá e que encontrou próximo ao hotel duas gatas de rua, famintas e abandonadas. Compraram ração e alimentaram as bichanas enquanto permaneceram ali, e depois fizeram o apelo na rede social, para que pessoas dali, ou das proximidades, adotassem as gatinhas. Claro que viram muitas crianças de rua, abandonadas, famintas, nas portas de bares e restaurantes, mãos estendidas em um gesto desesperado, tentando saciar a fome que os mata lenta e cruelmente. Em nenhum momento vi o casal afirmar nas redes sociais que lhes deu um prato de comida. Como não vi o casal apelar para moradores do local, no sentido de encontrar-lhes um lar.
Fico muito à vontade para falar porque de 1997 ao ano 2000, fui membro do Conselho Tutelar. Preocupado com o que vi, de crianças que têm seus direitos violados constantemente, fundei o Centro de Defesa da Criança e do Adolescente, e venho lutando diuturnamente pelos direitos dos pequenos. Perdi a conta de quantos meninos e meninas retirei das ruas, para instituições ou para adoção. Fico mais à vontade ainda, para adotar cães de rua, porque não esqueci as crianças.
O ser humano deveria inspirar-se no mundo animal. Os irracionais têm outras atitudes em relação às suas crias. Uma das cadelas que adotei recentemente, a Lolita, que tem cerca de um ano, estava em um final de tarde, nesta semana, deitada sob a rede da varanda, onde eu estava deitado, concentrado, pensando no que escrever para o meu blogue nesta próxima sexta-feira. Repentinamente vi passar um bando de micos, no Nordeste chamados de soim, pulando de galho em galho nas árvores. Ao pularem de uma palha de coqueiro para outra, as mães levavam os filhotes nas costas, firmemente agarrados. Porém um destes filhotes caiu ao chão, e ela gritou desesperadamente atraindo a atenção do bando que ia mais adiante e voltou de imediato. A Lolita correu para o local e mataria o filhote de soim, é o instinto animal. Mas todo o bando desceu como um exército organizado de soins, e avançou contra a Lolita, batendo-lhe no focinho e mordendo-lhe as orelhas. Enquanto isso a mãe recolocou o filhote nas costas e subiu no coqueiro. O resto do bando instantaneamente subiu o coqueiro deixando a cadela latindo para o alto, não se dando por vencida.
E eles são os irracionais! As mulheres, seres racionais, que abandonam ou vendem os filhos, poderiam se inspirar neste bando de soins, que mostrou organização, união e, principalmente, amor à família.

Você pode ver este texto no meu vídeo blogue em http://www.youtube.com/watch?v=egjUiTACPDw .

Um comentário:

Claudemir Barros disse...

Caríssimo Paulo, eu gostaria que me fosse permitido fazer um breve corte no contexto da sua matéria que aborda também problemas de cunho social, parte do cotidiano frágil e débil da realidade nacional que, vez por outra, sai na imprensa com alguma preoculpação até da classe política pois acredito, que ainda há gente séria neste país capaz de, pelo menos, perceber que os problemas "existem". As soluções que, segundo a sua ótica estão baseadas no abismo deixado na nossa história, onde "a educação era a base de tudo", me faz caminhar pelas escolas do município e verificar em alguns casos, muito otimismo e alguns recursos tecnológicos financiados pelo governo federal. Mas, para onde vai o futuro dessa instituição ?
Salas de informática, ilhas digitais, onde o mundo cabe num mouse, deixa a gente perplexo com o tamanho das possibilidades, de desenvolvimento existentes.
Lamentável, que a forte cultura assistencialista do governo, em todas as esferas, onde tem orgão pra tudo, cruze impunemente os braços.
A "doente", que faz da sua enfermidade um negócio fazendo parte dele, provavelmente ainda faz parte de um grande projeto governamental para que as coisas continuem assim... tudo isso se reflete em todos os ambientes do grande contexto social. Bastaria citar o caso do paciente orientado ou já condicionado, a pedir o que deseja ao seu médico e não revelar o que tem ou o que vem sentindo, é um exemplo de que o eleitor está a serviço do poder ou é não o contrário ?
Acredito, que o problema está em afirmar que estamos inseridos no estado democrático direito, ou quando este direito serve apenas para quem tem a caneta para fazer o quem bem entende ?
"Proclamam por liberdade, mas só aquela que convém" !
Na prática, há o abismo que alimenta a inércia da ignorância, bastando julgar que determinada pessoa fez isso ou aquilo de errado por ser analfabeta ou ignorante, gerando o outro ser: "O dono da verdade" !
Afinal onde essa verdade, a verdadeira, terá o direito de se manisfestar e sequer existir no "estado democrático brasisleiro" ?

Abraços !
Claudemir Barros