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terça-feira, 29 de novembro de 2011

Crendices Populares


Como diz a canção da MPB vivemos em um país abençoado por Deus e bonito por natureza. Mas, também por natureza, este é um país riquíssimo em superstições. E não poderia ser diferente em um país que nasceu à sombra da miscigenação de índios, negros e brancos europeus. Nossos índios se pintavam e se adornavam com penas e miçangas coloridas. Alguns negros, vindos da região do Islã sabiam trabalhar metais e fizeram adornos de prata e ferro. A tudo isso chamaram de “balangandãs”.
Mas estes balangandãs não tinham a função apenas de enfeitar. Havia por trás, toda uma estória que os levava a crer em proteção, e que muitos acreditam e cultuam até hoje. Mexendo na caixinha de adornos da minha filha, encontrei dois destes balangandãs. Um olho grego e uma pimenta vermelha.
O olho grego é uma bolinha de vidro colorido branca, com uma circunferência menor em azul, e outra bem menor de cor preta que representa a pupila do olho. Acredita-se que ele emite energias, positivas, naturalmente. Afasta a inveja, o “olho grande” e absorve energias negativas que iriam para quem o usa. Desta forma, quando não tiver mais espaço disponível para a absorção de energias, ele se quebra.
A pimenta vermelha acredita-se que afaste todo o mal que viria para quem a usa, deixando quem o enviou com todo o ardor da pimenta em suas entranhas; além disso, a sua cor vermelha viva atrai os olhos e “puxa” toda a energia ruim que viria deste olhar.
Passaríamos todo o dia aqui escrevendo/lendo sobre este tema inesgotável. Todo mundo considera isso como crendice, meras superstições. Mas todo mundo usa alguma das crendices populares do Brasil.
Nas casas de amigos que mais pensamos que não acreditam nessas coisas, ali se vê uma ferradura atrás da porta, um comigo-ninguém-pode no jardim, uma figa na pulseira, e tantas outras coisas.
Dei um balanço na minha casa para ver quantas dessas coisas incorporei ao meu cotidiano e sem perceber vai sendo “cultuado” por aqui. Achei muita coisa. No alto da porta do meu quarto, pendurada, balançando ao sabor dos ventos, há uma bruxinha, sobre a qual já escrevi no meu blogue. Ela personifica uma lenda nórdica que diz -"Quando ele e ela, tocarem as vestes da bruxa, jamais se separarão”. Deu certo, já caminhamos para quase 25 anos de casados.
No jardim, sentado em um tronco seco de carnaubeira, está um São Francisco, obra do artista popular Diógenes, que diuturnamente protege minha casa, minha família. Eu o pedi sentado, e creio que ele deve estar feliz, pois está confortavelmente instalado sobre o tronco, sem o cansaço de outras imagens que permanecem eternamente de pé.
Tenho uma Bíblia Sagrada em um CD, obra da Editora Paulus. Foi presente de um padre, um ex-amigo, que por mais que distribua CDs com a Bíblia Sagrada pelo mundo, não diminui sua pesada carga de pecados a exigir o justo castigo.
Mas o que tenho de mais importante para afastar de minha casa os maus espíritos, é uma carranca do Rio São Francisco, que segundo historiadores, na proa das barcas, navegou por ali de 1880 a 1940 tendo sido as únicas embarcações primitivas dos povos ocidentais que utilizaram figuras de proa. No portão da minha casa, a carranca afasta os maus espíritos, os corruptos, que desaparecem sem imaginar nem o porquê. Muita gente da prefeitura deixou de andar aqui depois que coloquei a carranca no portão.
Há tudo isso e muito mais, para proteger a pessoa contra os maus fluídos. É para acreditar? Acho que não, mas é algo que deve ser preservado, pois faz parte de nossa cultura, faz parte da formação do nosso povo e deve ser passado para as futuras gerações, como um importante eco do nosso passado.

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