sexta-feira, 18 de novembro de 2011
Exploração da miséria
Trabalhando na minha varanda ouvi um barulho de carro de som, entrando em minha rua. Parecia que o carro estava parado em algum ponto próximo de minha casa.
Uma voz de homem, falando pausadamente, quase chorando apelava às pessoas para que ajudassem “essa pobre mulher com um problema na perna” sofrendo há muitos anos sem que a medicina possa dar jeito. Ela precisa da sua ajuda. Ajude com qualquer valor que Deus o abençoará. Se não tiver dinheiro pode doar um quilo de qualquer alimento, pois ela é sozinha no mundo e não pode trabalhar para prover o seu sustento.
E ele prossegue agradecendo com um muito obrigado a esta senhora que ajudou com cinco reais. Obrigado ao garoto que trouxe um quilo de café, e por aí vai. Fui até ao portão para ver o carro passar. Ao ver-me no portão ele parou o carro e apelou para os meus sentimentos solicitando que o ajudasse. Aproximei-me e vi uma senhora, aparentemente com mais de 60 anos, com uma das pernas inchada e totalmente ferida e ensangüentada. Não sei que doença ela tem.
A prática da mendicância não é mais crime no Brasil, nem contravenção penal. Mas aquele casal está explorando a boa fé das pessoas. Ela, se contribuiu para a previdência e tiver direito à aposentadoria, já tem idade de estar aposentada por tempo de serviço ou por doença, se for o caso. Se nunca contribuiu, já tem idade de estar recebendo o Benefício de Prestação Continuada – BCP, exatamente para as pessoas que chegam a esta idade e não tem o amparo da previdência.
Além de ter o direito de estar recebendo um salário mínimo, tem direito a tratamento gratuito pelo Sistema Único de Saúde – SUS e acesso a medicamentos gratuitos.
Ele continuava apelando para que eu contribuísse. Aproximei-me dele e perguntei se ela não teria direito à aposentadoria ou ao BCP. Prontifiquei-me a ir com ele ao hospital de nossa cidade para uma consulta e início do tratamento. Ele arrancou com o carro dizendo ao microfone: “Se o senhor não quer ajudar, que Deus o abençoe assim mesmo!” Claro que eles não querem tratamento. O tratamento e a cura seria como matar a galinha dos ovos de ouro.
Polícia! Onde está a polícia que não vê isso? Onde estão as assistentes sociais do Centro de Referência Especializado de Assistência Social - Creas que não vêem isso? Onde estão os conselheiros municipais do idoso que não vêem uma idosa sendo vilmente explorada? Para quem não conhece o Creas, ele é uma unidade pública e estatal, que oferta serviços especializados e continuados a famílias e indivíduos em situação de ameaça ou violação de direitos, que é o caso daquela senhora.
Eles estão frequentemente em nossa cidade. Quer vê-los? Eles aparecem na semana de pagamento dos aposentados, pagamento do Bolsa Família, pagamento dos servidores públicos. Nestas oportunidades, em que o povo incauto está com dinheiro, eles surgem para a exploração da miséria. Passam em frente à delegacia, ao Fórum, ao Creas, todos ouvem os apelos dramáticos do homem, e ninguém toma qualquer providência. E a idosa continua sendo vilmente explorada, porque ao final do dia, depois que ele conta o arrecadado e desconta o da gasolina, do desgaste de pneus, o do trabalho dele, quanto sobra para ela?
No alto, foto aleatória, captada na internete.
Este texto pode ser visto no meu VÍDEO BLOGUE FRAGMENTOS, no You Tube, em http://www.youtube.com/watch?v=egjUiTACPDw .
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4 comentários:
Boa tarde!
Um interessante vídeo acerca da invasão da USP.
Marilena Chauí :Contra a PM na USP
Sempre bom relativisar as coisas.
Adriano, recife, PE
http://youtu.be/uUgSGS0lUfA
Relativizando:
Procuram-se professores de democracia
Posted by eduguim on 23/11/11 • Categorized as Crônica
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O governador Geraldo Alckmin declarou que os estudantes que a Polícia Militar prendeu após retirar da Reitoria da USP estariam precisando de aulas de democracia. Em vez de entrar nos méritos da presença ou não da polícia na Cidade Universitária, aqui será analisada essa declaração do governador de São Paulo.
Para tanto, comecemos pela ótica da autoridade constituída. Não se pode negar que a organização social e política do Brasil obriga à aceitação de regras que podem ser resumidas a uma, básica, de que o poder que emana das urnas tem que ser aceito por todos, mesmo pelos que discordam da decisão eleitoral da maioria.
Provavelmente, Alckmin se referiu ao poder legítimo e constitucional que governadores têm de nomear reitores de universidades públicas, de que sejam alinhados à visão de quem nomeou e de que, assim, tomem medida completamente dentro de suas alçadas como a de pôr a polícia na USP.
As ponderações podem até ser conduzidas no âmbito de tais cânones democráticos, mas as nuanças políticas, ideológicas, sociais e culturais não podem ser desprezadas.
O aprendizado de democracia também falhou com Alckmin. Sua decisão monocrática afetou não só aos alunos, mas a todos os que transitam pela USP, sejam do corpo discente, sejam do corpo docente, sejam funcionários. Todos têm direito de opinar. Trata-se de uma questão de Segurança Pública, não de Educação.
Ganhar uma eleição não dispensa o eleito de ouvir a sociedade. Vejam essa questão da usina hidrelétrica de Belo Monte. Os votos que Dilma ou Lula receberam não os dispensaram de discutir a execução da obra, sobretudo com os que serão imediatamente afetados. Por isso, incontáveis debates foram travados.
Pergunta: quantos fóruns de discussão o reitor da USP promoveu antes de tomar uma decisão como aquela?
E a imprensa? Será que os meios de comunicação deram igualdade de condições a todas a visões? Segundo a ombudsman do jornal Folha de São Paulo, não deram. Ela afirmou, no último domingo, que a imprensa sufocou aqueles que discordavam de sua opinião e deu espaço desmedido ao lado que concorda consigo.
Pelo visto, faltam conhecimentos de democracia não só aos alunos da USP, mas também ao governador do Estado, ao reitor da universidade e à imprensa, cuja missão institucional é informar seu público e não convencê-lo de suas teses. Não será fácil, pois, ensinar democracia a tanta gente. Faltarão professores.
Fonte: http://www.blogcidadania.com.br/2011/11/procuram-se-professores-de-democracia/
Será que os alunos são todos ricos, depredadores e inconsequentes?
Pela 2ª vez no ano, PM é acusada de “plantar” coquetéis molotov
É muito grave a acusação que vem sendo feita à Polícia Militar de ter sido a verdadeira autora da depredação do andar inferior do prédio da Reitoria da USP e de ter “plantado” ali os coquetéis molotov exibidos incessantemente pela grande imprensa como “provas” das intenções supostamente “criminosas” de estudantes que teriam como objetivo combater a presença da corporação militar no campus para poderem “fumar maconha à vontade”.
A obscura ação da Polícia Militar, estranhamente feita enquanto o dia nem tinha amanhecido, precisa continuar sendo discutida e investigada, pois o Brasil está às portas de um evento de repercussão mundial que, a persistirem supostos métodos criminosos que vêm sendo atribuídos a uma corporação que deveria defender e aplicar a lei, poderá evoluir para uma grave crise política e para o tão ambicionado (pela mídia e pela oposição) fiasco da Copa de 2014 justo no ano em que será eleito o sucessor da presidente Dilma Rousseff.
Não é a primeira vez, em 2011, que esses improváveis coquetéis molotov aparecem na mídia como tendo sido encontrados com militantes políticos (sem necessária conotação partidária) que desafiaram a Polícia Militar. Em março deste ano, militantes do PSTU foram presos no Rio de Janeiro por protestarem contra a visita do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Da mesma forma que na recente desocupação da reitoria da USP, os manifestantes foram acusados de serem os donos daqueles artefatos.
Para quem eventualmente achar que aqui se comete algum exagero, vale a pena ler, abaixo, a última coluna dominical da ombudsman da Folha de São Paulo, Suzana Singer. Apesar de a jornalista ter ficado restrita a dogmas da posição “oficial” da imprensa, deixou escapar o reconhecimento de que essa mesma imprensa sufocou o debate sobre os méritos da invasão e a própria liberdade de expressão ao não dar voz aos reprimidos pela Polícia.
—–
FOLHA DE SÃO PAULO
13 de novembro de 2011
A ‘imprensa burguesa’ no campus
Restante da matéria, no link abaixo.
Fonte: http://www.blogcidadania.com.br/2011/11/pela-2%C2%AA-vez-no-ano-pm-e-acusada-de-%E2%80%9Cplantar%E2%80%9D-coqueteis-molotov-3/
Gostei muito do tema "Exploração da miséria". "A miséria não acaba porque da lucro!" E vejamos agora neste ano de eleição como se explora essa pertinência dos políticos X povo... O povo na miséria entrega o seu voto pelos favores dos políticos em troca de tratamento de saúde, vaga numa escola e até por uma cesta-básica de alimentação. Então... À miséria é lucro durante quatro anos para os políticos e, os miserável por migalhas durante alguns meses...
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