sábado, 12 de novembro de 2011
Insegurança nas universidades
Notícias verdadeiramente preocupantes vinham chegando de todos os cantos do país, dando conta de grande insegurança nos campus universitários, que atingem alunos, professores e funcionários.
No início deste ano, para não irmos muito longe, diversas foram as notícias que chocaram o país, dando conta de estupros nos campus, nas salas e principalmente nos banheiros de faculdades públicas ou particulares.
O estupro é um crime hediondo que atingiu universitárias de norte a sul do país, em instituições públicas e privadas. As últimas tentam ainda, abafar os casos para não prejudicar suas imagens, sem nenhuma preocupação com a vítima.
Em São Paulo, tentaram assaltar um estudante para levar-lhe o carro. Como ele esboçou reação, foi assassinado, no estacionamento do campus. No Ceará, um professor teve o veículo levado do estacionamento do campus, por ladrões que o deixaram ali, completamente nu.
Em todo o Brasil, é comum o roubo de computadores e caros equipamentos de laboratórios. Câmeras de segurança filmaram e a TV exibiu o ladrão entrando sem nada e saindo com um “notebook” de uma universidade. O caso mais comum é o de sequestro relâmpago, no qual professores, funcionários e estudantes são levados ao caixa eletrônico para sacar o que puderem e depois são levados em seus próprios carros para bairro distantes onde são liberados.
Esta era a situação caótica na qual se encontravam mergulhadas nossas universidades públicas e privadas. A sociedade ouviu o grito de socorro vindo dos muitos campi de universidades estaduais e federais que pediam segurança. A Universidade de São Paulo – USP, a Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, com o maior campus do país, situado na Ilha do Fundão, a Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, a Universidade de Brasília – UNB, a Universidade Federal do Ceará – UFC, entre outras, abriram suas portas, através de convênios, para que as polícias militares de seus estados pudessem adentrar aos campi e ali fazer o patrulhamento ostensivo, dando mais segurança à comunidade universitária.
Estatísticas oficiais comprovam que houve redução nos crimes praticados ali, e que citamos, como estupros, roubos, furtos, assaltos, sequestros relâmpagos e outros. No entanto, enquanto alunos da UFMG, da UNB, e da UFRJ apareciam em telejornais pedindo um aumento do efetivo policial militar em seus campi, para aumentar a segurança, três estudantes da USP foram presos por fumarem maconha no estacionamento. Foi o suficiente para que outros cento e cinquenta estudantes tentassem resgatar os presos, o que não conseguiram. Mas depredaram seis viaturas policiais e atiraram contra os policiais paus, pedras e um cavalete. Passaram à ocupação do prédio da Geografia, mais tarde se transferiram para o prédio da Reitoria. Nada contra a ocupação de prédios públicos. Já participei disso, de forma pacífica, sem danos ao patrimônio público para exigir reformas, aumentos de salários de professores, melhores condições de ensino, melhores equipamentos, ou fora do meio estudantil, para exigir terras para a reforma agrária, moradias para os sem teto, etc. Mas o que se viu no prédio da Reitoria foi a barbárie, cenas de depredação, para defender o uso livre da maconha no campus universitário.
Ora, a maconha é proibida no país. A Cidade Universitária, não pode ter legislação própria, diferente da cidade de São Paulo, onde está inserida. Os vândalos falam em protesto para mudar a lei e liberar a maconha, mas não é destruindo a Reitoria que se muda a legislação.
Cidadãos perplexos passaram a ver na TV, o vandalismo de um pequeno grupo de maconheiros, que não representa o pensamento dos estudantes da tradicional e respeitada USP, destruindo computadores, mesas, cadeiras, câmeras de segurança, enquanto de outro lado, o Estado demorou a tomar a decisão de cortar água, energia, internete e iniciar a reintegração de posse com a prisão de todos os vândalos, que deveria ter sido feito no primeiro minuto. Note que o estudante da foto cobre o rosto com a camisa, tal como o fazem os bandidos, porque sabe que o que está fazendo é crime. Veja o cartaz onde afirma que “os policiais são trabaliadores...”
Muitos irão me chamar agora de reacionário. A estes, que não conhecem minha história, meu desprezo. Para que eles estejam aí hoje, com plena liberdade, para me criticar e fazer o que quiserem, posso dizer simplesmente que eu VIVI 68!
O ano de 1968 foi um ano bizarro, muito louco, enigmático, que muitos que o viveram ainda não o entenderam. Zuenir Ventura explica aquele ano, em seu livro “1968, o ano que não terminou”. Estive presente nos principais acontecimentos daquele tempo e de muitos participei ativamente. Costumo dizer que estive de corpo presente, participando, contribuindo, lutando, nos acontecimentos do Rio de Janeiro, onde morava. Vi, assisti, sentindo-me participante, mas “por procuração” os acontecimentos no resto do mundo. Equipes de TV, tudo assistiam e me mostravam, como se seus jornalistas fossem meus procuradores.
Assim, vi, por procuração a “Libertação de Paris”, o “Maio Parisiense” nas barricadas, no tumulto dos sinos, nos incêndios, nos fogos de artifício. Vivi, por procuração, a "Revolução Húngara" e vivi por procuração, um momento inesquecível, o "Outubro Polaco". Vivi por procuração, ainda, a "Primavera de Praga". Foi por procuração que pude ver, me sentindo como quem participava, a alegria de “Abril em Lisboa”!
Mas foi aqui, que sem procuração nenhuma, vivi de corpo presente, enfrentando tanques e a cavalaria, na Avenida Rio Branco, os acontecimentos de 68, que marcaram para sempre, com sangue, tortura, desaparecimentos e mortes, a história do nosso país. Em 28 de março de 1968, estava na Cinelândia quando soube do assassinato de Edson Luiz, no Calabouço. Corri para lá, e voltei com a multidão que trouxe o seu corpo para ser velado na Assembléia Legislativa do Estado da Guanabara. A história guardou e reverencia seu nome. Mas com ele morreu - poucos dias depois, no hospital – o estudante Benedito Frazão Dutra. Ficaram feridos e foram atendidos no Hospital Souza Aguiar Telmo Matos Henriques, Antônio Inácio de Paulo, Walmir Gilberto Bittencourt, Olavo de Souza Nascimento e Francisco Dias Pinto. A Polícia Militar do Estado da Guanabara – PMEG, altamente despreparada, tinha como comandante da operação um aspirante, recém saído da Escola de Formação de Oficiais, o Asp. Aloísio Raposo.
Naquele tempo, sem o vandalismo e a maconha de hoje, estudantes de São Paulo se solidarizaram e quatro mil estudantes fizeram uma manifestação na Faculdade de Medicina da USP. Também foram realizadas manifestações no Centro Acadêmico XI de Agosto, da Faculdade São Francisco, na Escola Politécnica da USP e na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Em junho de 68, estive na passeata dos 100 mil, exigindo o fim da censura e lutando pela redemocratização. Em outubro, não pude ir ao 30º Congresso da UNE, em Ibiúna – SP, do qual poucos voltaram, e em dezembro assisti consternado a decretação do Ato Institucional N.º 5, o famigerado AI 5.
Agora, também consternado, assisto, por procuração, o vandalismo dos maconheiros que denigrem a história da USP. Hoje já tentam mudar o foco da ocupação e começam a dizer que a luta dos estudantes é por melhor qualidade na educação da USP. Não! Não podemos esquecer que o motivo foi a prisão de três maconheiros no campus, e que um grupo de 150 não aceitou a atuação da PM, exigindo que ela saia do campus.
Não posso esquecer que a USP, como disse acima, foi em 68 solidária às manifestações estudantis. Foi um dos principais redutos de resistência, para que hoje possamos todos nós, inclusive os rebeldes sem causa, os baderneiros da USP, viver em liberdade num estado de direito, numa democracia plena, que ajudei a construir.
Pena que uma comunidade de mais de 200 mil pessoas na USP, a maior universidade da América do Sul, seja atingida por um grupinho de baderneiros que dá este mau exemplo ao mundo. Quem ganhou com isso? Quem perdeu? Sinto que eu, como cidadão, que ajudei a construir, como ajudo a manter a USP perdi muito. Torço para que as perdas fiquem nos danos materiais, na falta de aula, no nome emporcalhado da universidade que haverá de sair dessa rapidamente porque tem história. Recuso-me a pensar que possamos vir a perder a liberdade, nossos direitos fundamentais, nossa Constituição Federal Cidadã, tudo duramente conquistado por tantos, inclusive por mim, e pela muitas turmas que passaram pela USP, antes dos atuais baderneiros que defendem o uso da maconha no campus.
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USP; Reitoria da USP; Maconha na USP
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USP: Privatização e militarização
por Francisco Alambert, Francisco de Oliveira, Jorge Grespan, Lincoln Secco, Luiz Renato Martins e Marcos Soares, sugestão de Ricardo Maciel
da Folha de S. Paulo
As razões da militarização do campus da USP transcendem os limites e dados recentes a partir dos quais tem sido discutida. Por que não propor a mudança do teor ermo e rural do campus por sua urbanização efetiva, o aumento de cursos noturnos etc.?
Em vez disso, a reitoria traz coturnos, controles e revistas, rasantes de helicópteros, que rasgam o pensamento e a escuta (que atenção resiste à rotação das hélices?), e bombas; logo virão cães… Insiste em ações de respostas e sequelas imprevisíveis. Já se tem os vultos cauta e justamente encapuzados dos nossos estudantes contra a reitoria ditatorial e policialesca.
Por que a insistência no trauma, na indignidade, no modo custoso e descabido? A verdade é que a militarização, ou terceirização da segurança, deriva da privatização em curso da USP.
Combina-se ao sucateamento, no campus, do hospital, da moradia estudantil e do transporte, aos cursos pagos e escritórios externos. Com que fim? Recordemos.
O primeiro ato da gestão Serra foi criar a Secretaria de Ensino Superior, englobando as universidades estaduais e a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), com orçamento de grande estatal, superior ao de Estados.
O pacote privatista cindia pesquisa e ensino, sediava a pesquisa em ilhas, associando-a a empresas, substituía o ensino presencial por telecursos e submetia o todo a critérios empresariais.
Resultou em greves por todo o Estado, na primeira ocupação da reitoria da USP (maio-junho, 2007) e na demissão do secretário Pinotti.
O governo, porém, não desistiu. Passou a priorizar a liquidação do movimento que obstou o primeiro carro-chefe da campanha de Serra à Presidência. Fez a reitoria nomear um investigador de polícia como diretor de segurança da USP no final do ano de 2007.
Os furtos no campus seguiram, mas o alvo era outro: em 2008, a reitoria demitiu um dirigente sindical, apesar da imunidade constitucional do cargo, e implantou a estratégia de processos administrativos e penais seriais contra os sindicalistas e estudantes.
À rádio Bandeirantes, o reitor afirmou, em 2010, que a USP era como os “morros do Rio” e que requeria uma intervenção como a do Haiti. Hoje, cinco dirigentes sindicais encontram-se em vias de demissão, até por “crime de opinião”, e 25 estudantes, às portas da expulsão, com base em artigo que proíbe a difusão de ideias políticas no campus; com as prisões recentes dos 73, ascende a quase cem a lista dos estudantes perseguidos.
De fato, a USP, sem acesso universalizado — ao contrário de universidades públicas da Argentina e do México—, ainda não se pôs, como deve, a serviço da sociedade como um todo.
Está, no entanto, a sociedade ciente do processo em curso e disposta a prosseguir na dilapidação e cessão a grupos privados do enorme potencial da universidade?
O reitor Rodas acelera vertiginosamente a fratura social e política da USP. É preciso caminhar para uma estatuinte, sem o que não haverá concórdia e paz.
Os problemas da USP, inclusive os de malversação e de uso obscuro de bens, são em sua raiz políticos, e se reproduzem por um regimento herdado do autoritarismo, que fere toda ordem democrática.
Sua solução passa, como a do país, pelo sufrágio universal, pela abertura social, pela preservação da gratuidade, pela multiplicação de cursos noturnos e pelo incentivo a pesquisas em diálogo real com as necessidades nacionais.
Francisco Alambert é professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (FFLCH-USP).
Francisco de Oliveira é professor emérito da FFLCH-USP.
Jorge Grespan é professor da FFLCH-USP.
Lincoln Secco é professor da FFLCH-USP.
Luiz Renato Martins é professor da Escola de Comunicações e Artes da USP.
Marcos Soares é professor da FFLCH-USP.
Raquel Rolnik: Muito além da polêmica sobre presença ou não da PM
Muito além da polêmica sobre a presença ou não da PM no campus da USP
04/11/11
Blog da Raquel Rolnik, sugerido por Rafael PJS
Ontem participei, a convite do Grêmio da FAU, de um debate sobre a questão da segurança na USP e a crise que se instalou desde a semana passada, quando policiais abordaram estudantes da FFLCH, cujos colegas reagiram. Além de mim, estavam na mesa o professor Alexandre Delijaicov, também da FAU, e um estudante, representando o movimento de ocupação da Reitoria.
Para além da polêmica em torno da ocupação da Reitoria, me parece que estão em jogo nessa questão três aspectos que têm sido muito pouco abordados. O primeiro refere-se à estrutura de gestão dos processos decisórios dentro da USP: quem e em que circunstâncias decide os rumos da universidade? Não apenas com relação à presença da Polícia Militar ou não, mas com relação à existência de uma estação de metrô dentro do campus ou não, ou da própria política de ensino e pesquisa da universidade e sua relação com a sociedade. A gestão da USP e de seus processos decisórios é absolutamente estruturada em torno da hierarquia da carreira acadêmica.
Há muito tempo está claro que esse modelo não tem capacidade de expressar e representar os distintos segmentos que compõem a universidade, nem de lidar com os conflitos, movimentos e experiências sociopolíticas que dela emergem. O fato é que a direção da USP não se contaminou positivamente pelas experiências de gestão democrática, compartilhada e participativa vividas em vários âmbitos e níveis da gestão pública no Brasil. Enfim, a Universidade de São Paulo não se democratizou.
Um segundo aspecto diz respeito ao tema da segurança no campus em si. É uma enorme falácia, dentro ou fora da universidade, dizer que presença de polícia é sinônimo de segurança e vice-versa. O modelo urbanístico do campus, segregado, unifuncional, com densidade de ocupação baixíssima e com mobilidade baseada no automóvel é o mais inseguro dos modelos urbanísticos, porque tem enormes espaços vazios, sem circulação de pessoas, mal iluminados e abandonados durante várias horas do dia e da noite. Esse modelo, como o de muitos outros campi do Brasil, foi desenhado na época da ditadura militar e até hoje não foi devidamente debatido e superado. É evidente, portanto, que a questão da segurança tem muito a ver com a equação urbanística.
Finalmente, há o debate sobre a presença ou não da PM no campus. Algumas perguntas precisam ser feitas: o campus faz parte ou não da cidade? queremos ou não que o campus faça parte da cidade? Em parte, a resposta dada hoje pela gestão da USP é que a universidade não faz parte da cidade: aqui há poucos serviços para a população, poucas moradias, não pode haver estação de metrô, exige-se carteirinha para entrar à noite e durante o fim de semana. Tudo isso combina com a lógica de que a polícia não deve entrar aqui. Mas a questão é maior: se a entrada da PM no campus significa uma restrição à liberdade de pensamento, de comportamento, de organização e de ação política, nós não deveríamos discutir isso pro conjunto da cidade? Então na USP não pode, mas na cidade toda pode? Que PM é essa?
Essas questões mostram que o que está em jogo é muito mais complexo do que a polêmica sobre a presença ou não da PM no campus.
Raquel é urbanista, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo e relatora especial da Organização das Nações Unidas para o direito à moradia adequada.
Fonte: http://www.viomundo.com.br/politica/raquel-rolnik-muito-alem-da-polemica-sobre-a-presenca-ou-nao-da-pm.html
Caro Xará
Concordo com sua exposição. O pessoal do PSTU querem é a baderna e o enfrentamento. Também estive na missa de Edson Luis, no Rio.
Um abraço
Paulo Paiva
"Um coroa reacionário"
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