Em 1994 dediquei-me à defesa de crianças e adolescentes explorados no trabalho infantil de pedreiras e cerâmicas, onde um menino de seis anos ganhou notoriedade internacional com sua fotografia, sentado, quebrando pedras. Em 1997 criei o até hoje atuante Centro de Defesa da Criança e do Adolescente de Itaitinga – Cedeca/Itaitinga, e elegi-me para o Conselho Tutelar de Itaitinga. Conseguimos extinguir esta forma de trabalho infantil, embora saibamos que haja outras, muitas outras.
Mas a discriminação social é grande. É grande a discriminação de gênero, racial e sexual. Tenho sempre abertas as portas da minha casa para as pessoas que sofrem discriminações. Acolho e encaminho.
Nossa sociedade discrimina os pobres, pessoas que moram na periferia e que são tratadas como inferiores, até nas igrejas. A mulher, que não é minoria, é discriminada em todo o Ceará de forma absurda, até nas letras de forrós, que paradoxalmente elas tanto curtem, quando são chamadas de cachorras, raparigas e outros termos. A Lei Maria da Penha não diminuiu as discriminações e elas continuam apanhando de homens no meio da rua, como aconteceu no Clube da Tia, onde no dia 9 de outubro no meio de uma festa, um vereador agrediu sua ex-mulher dentro do clube e arrastou-a até a rua onde a largou em frente a uma viatura policial que nada fez para prender o agressor em flagrante.
Quando elegemos em 2004 um prefeito negro, que está no poder até hoje (reeleito) achei que a discriminação contra negros havia diminuído no município. Mas desde a campanha a oposição o chamava de urubu, e ele, talvez por medo de perder votos, perdeu a excelente oportunidade de levar dois ou três para a delegacia pelo crime de discriminação racial. Em 2006 eu trouxe a Itaitinga um grupo de Maracatu, do meu amigo Carlos Veneranda, negro e vice-prefeito de Fortaleza, que com ele apresentou-se na Praça para meia dúzia de pessoas, não dispostas a assistir espetáculos de negro. Nem o prefeito, negro e convidado prestigiou a exibição, no Dia Nacional da Consciência Negra. Neste dia, elegemos dois delegados que foram à Brasília para um evento que debateu políticas públicas para negros, mas o município não tomou conhecimento.
A discriminação sexual é alta. Jovens de ambos os sexos são expulso de casa, no início da adolescência quando revelam suas preferências homossexuais. No ano passado, 2010, ajudei a organizar uma associação denominada Movimento Aquarela de Itaitinga, que pretende defender o público LGBTT (Lésbicas, gays, bi-sexuais, transexuais e travestis) de todas as formas de discriminação. Para tentar ganhar a simpatia da população organizamos a I Parada da Diversidade Sexual de Itaitinga, que foi um estrondoso sucesso.
Já em 2011, com apoio do Governo Federal fizemos em 22 de setembro a Mostra Itinerante do 4º For Rainbow, um Festival de Cinema e Cultura da Diversidade Sexual, que celebra a cultura de paz e o respeito à diversidade humana. Reunimos em meu sítio um grupo do público LGBTT e exibimos dez curtas que foram amplamente debatidos.
Realizamos também em 1º de outubro a II Parada pela Diversidade Sexual de Itaitinga, outro sucesso, com apoio do Governo do Estado do Ceará.
Na Mostra Itinerante do 4º For Rainbow, havia uma maleta com vários brindes, camisa do movimento, chaveiros e outros para sorteio e distribuição. Fiquei com um chaveirinho (foto acima) que resume bem as quatro formas de discriminação que evidenciei. O chaveiro fala por si. Vemos aí duas mulheres, como dissemos visivelmente discriminadas por serem mulheres. São discriminadas por serem pobres, nota-se pela maneira de se vestirem. Uma é negra, outro fator que discrimina. E... Namoram, são lésbicas, imperdoável em nossa sociedade.
Olhando para o chaveiro tenho pena da negra, até porque ela é mulher, negra, lésbica e pobre. Reúne em si, pelo menos quatro fatores que atraem a discriminação da sociedade. Até quando?
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