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sexta-feira, 20 de maio de 2011

Poema para uma menina morta que recolhe assinaturas


Sou eu quem bate à tua porta.
Golpeio em todas as portas.
Não me podeis enxergar:
É impossível ver-se uma menina morta!

Morri fazem vinte e três anos,
Em Hiroshima.
Sou uma menina de sete anos,
As crianças mortas não crescem.

Primeiro incendiaram-se os meus cabelos,
Minhas mãos e olhos arderam depois,
Converti-me num punhado de cinzas
E meu sangue misturou-se ao vento.

Para mim, já nada vos peço,
Carinho, já não me podeis dar;
Menina que ardeu como folha de papel,
E já nem pode mastigar bombons
Eu golpeio e golpeio a tua porta:
- Faze-me a graça de uma assinatura
Para que as crianças não sejam assassinadas
E possam comer bombons.

Rio de janeiro, 1966.

Foto aleatória após o bombardeio estadunidense em Hiroshima.

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