terça-feira, 7 de junho de 2011
A menina queimada do Vietnã: Kim Phuc
Acho que todos lembram a história desta garotinha que foi fotografada toda queimada, correndo nua e desesperada pelas ruas de Trang Bang, Vietnã, momentos depois de um bombardeio aéreo estadunidense. Quem não lembra, não viveu aquela época, mas ouviu falar ou viu a foto da garotinha queimada, correndo em busca de ajuda.
À época eu tinha 24 anos, já era casado, sem filhos, morava em Copacabana, Rio de janeiro e fiquei chocado quando vi o vídeo na TV e a foto nos jornais do dia seguinte. A menina desapareceu da mídia e eu nem sabia se estava viva ou morta. Muitos anos depois soube que estava morando no Canadá, completamente reabilitada.
E não só eu, pouca gente sabe o nome e o destino dessa pequena sofredora que se tornou uma mulher pacifista, símbolo de luta e garra. Kim Phuc é o nome da menina que conseguiu sobreviver a esta covardia daqueles que já haviam arrasado Hiroshima e Nagasaki e que ainda arrasariam depois do Vietnam, o Iraque, Egito, Irã, e tantos outros países e povos, exterminando liberdades, banalizando a vida, desrespeitando direitos humanos.
Kim Phuc sobreviveu, embora tenha praticamente morado 14 meses em um hospital para reabilitação, para tratar a dor e sofrimento das queimaduras de terceiro grau que teve em mais da metade de seu pequeno corpo. Kim Phuc agora é uma cidadã canadense e compartilha a sua opinião sobre a sobrevivência e inspiração. Ela tem viajado por todo o mundo, reunindo e conversando com as pessoas sobre a paz. Hoje, 39 anos depois, Kim Phuc é Embaixadora da Boa Vontade das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).
Na foto vemos Kim Phuc hoje, ao lado de sua foto daquela época, nua, fugindo de seu povoado que estava sofrendo um bombardeio de napalm. Até hoje a foto é lembrada como uma das mais terríveis imagens da Guerra do Vietnã.
A foto foi tirada em 8 de junho de 1972, pelo fotógrafo Nick Ut, e Kim tinha apenas 9 anos. Ali, ela não sabia que o fato e a foto mudariam a sua vida para sempre.
Apesar de todo o seu trabalho pela paz mindial, fica a pergunta: - Quando os senhores no Norte deixarão o mundo em paz?
Vejam o que Kim Phuc disse em uma entrevista à BBC:
- “Em 1972, os americanos lançaram uma bomba de napalm em meu povoado, no sul do Vietnã. Um fotógrafo, Nick Ut, tirou uma foto minha fugindo do fogo, a foto que hoje é tão famosa. Eu me lembro que tinha 9 anos, era apenas uma menina. Naquela noite, nós do povoado havíamos ouvido que os vietcongues estavam vindo e que eles queriam usar a vila como base.
Então, quando já era dia, eles vieram e iniciaram os combates no povoado. Nós estávamos muito assustados. Eu me lembro que minha família decidiu procurar abrigo em um templo, porque nós acreditávamos que lá era um lugar sagrado. Nós acreditávamos que, se nos escondêssemos lá, estaríamos a salvo.
Eu não cheguei a ver a explosão da bomba de napalm; só me lembro que, de repente, eu vi o fogo me cercando. De repente, minhas roupas todas pegaram fogo, e eu sentia as chamas queimando meu corpo, especialmente meu braço.
Naquele momento, passou pela minha cabeça que eu ficaria feia por causa das queimaduras, que eu não ia mais ser uma criança como as outras.
Eu estava apavorada, porque de repente não vi mais ninguém perto de mim, só fogo e fumaça. Eu estava chorando e, milagrosamente, ao correr meus pés não ficaram queimados. Só sei que eu comecei a correr, correr e correr. Meus pais não conseguiriam escapar do fogo, então eles decidiram voltar para o templo e continuar abrigados por lá. Minha tia e dois de meus primos morreram.
Um deles tinha 3 anos e o outro só 9 meses, eram dois bebês. Então, eu atravessei o fogo.
O fotógrafo Nick Ut nos levou para um hospital das redondezas.
Assim que ele nos deixou lá, foi para uma sala escura revelar as fotos.
Depois, me falaram que eu e as outras pessoas feridas seriam transferidas para o hospital de Saigon. Dois dias depois, meus pais me encontraram no hospital. Eu passei bastante tempo no hospital: 14 meses. Os médicos fizeram 17 cirurgias para curar as queimaduras de primeiro grau. Metade do meu corpo ficou queimado.
Aquele foi um momento decisivo na minha vida. A partir daí, eu comecei a sonhar em como ajudar outras pessoas. Meus pais guardaram a foto, que tinha saído num jornal, e depois a mostraram para mim. "Esta é você, quando você estava ferida", disseram eles. Eu não consegui acreditar que era eu, era uma foto aterrorizante.
Eu acho que todas as pessoas deveriam ver essa foto, mesmo hoje.
Porque essa foto mostra claramente como uma guerra é terrível para as crianças. Você pode ver o terror no meu rosto. Basta ver a foto, para as pessoas aprenderem”.
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2 comentários:
Excelente matéria.Parabéns!
Milena F. Cavalcante
Valeu, Paulo...
É bom saber o que lhe inspirou a sonhar por um mundo melhor.
Paz e Bem!
Janio
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