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domingo, 28 de dezembro de 2008

Mortes violentas

Sem indícios de constrangimento, a Secretaria de Segurança Pública e Cidadania do Estado do Ceará informa que hoje, já passam de 80, são 83, as mortes violentas de mulheres em todo o estado, em 2008. As mortes, provocadas por ciúmes, intolerância, posse, agressividade, tem feito os crimes passionais aparecerem como um dos primeiros na lista das estatísticas de violência contra a mulher. Note-se que os crimes praticados contra a mulher, são ricos em requintes de crueldade, e se não matam, deixam marcas profundas na vítima e em suas famílias.

No Barrocão, bairro pobre de Itaitinga, foi encontrada morta em um terreno baldio, a diarista Maria Moura, 38 anos, viúva, sete filhos menores. Maria vivia e sustentava a prole com um salário mínimo de sua pensão, mais o que ganhava com o trabalho doméstico de diarista. Foi espancada, torturada, sofreu violência sexual, teve os mamilos arrancados com mordidas, e foi finalmente morta.

No período dos feriados natalinos e de ano novo, momento que deveria se caracterizar por um clima de paz, alegria e harmonia, esta é a triste realidade que vivemos no Ceará. Um dos jornais de maior circulação, estampou em uma só edição, entre muitas outras, estas manchetes:

Mais uma mulher assassinada
Bandido morre após trocar tiros com a PM
Agricultor é morto a pauladas
Bala perdida atinge criança de 10 anos
IML registra 23 mortes violentas nos feriados de Natal, ou seja, entre a noite de 23 e a manhã de 26
Jovem encontrado morto com tiro na cabeça
Conjunto São Miguel: Clima continua tenso no bairro

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Estado, que Estado?

No último trimestre de 2008 aumentaram muito em minha caixa de mensagens eletronicas, aquelas que davam conta da chegada do Natal e que sugeriam a doação de um quilo de alimentos para determinadas instituições, ou até depósitos em dinheiro em determinadas contas bancárias, para amenizar o sofrimento, na noite de Natal, daqueles que moram em abrigos, asilos, nas ruas.

Sempre respondi a estas mensagens com uma pergunta: Estas pessoas carentes terão uma bela noite de Natal, e nos outros 364 dias do ano, o que você propõe que se faça? Nunca recebi nenhuma resposta.

Aristóteles ensinava que “o homem é por natureza um animal social, e um homem que, por natureza, e não por mero acidente, não fizesse parte de cidade alguma seria desprezível ou estaria acima da humanidade”. Esta concepção aristotélica está clara em A Política, obra permanentemente atual, onde ele afirma que “a cidade tem precedência por natureza sobre o indivíduo, porque este não é auto-suficiente, e está em relação à comunidade como as outras partes em relação ao todo”.

Já nem é necessário aderir ao pensamento de Thomas Hobbes sobre condição humana, sua fragilidade, seu egoísmo, seu instinto natural de sobrevivência, que o levam à agressividade e às guerras, para que então possamos compreender a luz que se projeta sobre a realidade sombria dos nossos dias, que demonstram claramente que o homem ainda não atingiu a maturidade que lhe permita se autogovernar e conviver com o seu semelhante e com a natureza.

Boa a idéia de se fazer algo pelos moradores de rua, ou dos asilos e abrigos na noite de Natal. Mas por que não unir os esforços de várias pessoas, ou formar uma Ong, e trabalhar pelo próximo durante todo o ano? Não para substituirmos o Estado. Este trabalho é setorial, regional. O papel do Estado é insubstituível em um processo permanente de planejamento, desenvolvimento e integração regional e das políticas públicas. Que não se aproveite a crise ética em que vivemos, não só na política, mas em todos os campos, para tentar desqualificar as responsabilidades do Estado.

Já há algumas pessoas fazendo este trabalho o ano inteiro, sozinhas, em grupos, em Ongs organizadas, em movimentos religiosos, amenizando o sofrimento do próximo. Que o Feliz Natal, possa ser vivido o ano inteiro, por você também.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Lixo faz a festa em Gramado

A decoração de Natal em Gramado, RS, desde 2003 é feita toda com garrafas peti, portanto material reciclável.

Na realidade os preparativos para o Natal 2008 tiveram início em jaaneiro, nas escolas. Os organizadores fizeram gincanas, onde os jovens participaram disputando um computador, como prêmio maior.

Para o Natal 2008 estão sendo utilizadas 1 milhão de garrafas peti de diversos tamanhos e cores. Normalmente as crianças nas escolas coletam as garrafas de janeiro a junho, quando tem início nos barracões a confecção dos enfeites, utilizando a mão de obra de donas de casa.

A cidade está enfeitada com folhas, flores, guirlandas, bolas, árvores, bonecos de neve e festões, coloridos em vermelho, verde, dourado e branco. No resultado pode-se observar, além da beleza da decoração, o envolvimento da comunidade. Todos ficam encantados diante dos enfeites que ajudaram, de alguma forma a produzir, que preserva e valoriza este trabalho por considerá-lo um patrimônio da cidade. Segundo os organizadores, o custo é dez vezes menor do que com a decoração que utiliza os materiais tradicionais.

Gramado é uma cidade de plano diretor rígido quanto a aspectos ambientais, de forma a preservar o que é também o seu maior patrimônio turístico: a beleza de uma cidade verde e florida. A iniciativa do Natal Luz 2008 em reciclar um lixo nocivo ao meio ambiente – as garrafas PET levam 100 anos para se decompor na natureza – ganha ainda mais relevância considerando-se que o material pode ser reciclado mesmo depois de transformado em decoração.
A cidade de gramado é uma exceção. A maioria dos municípios brasileiros sequer deu início à coleta seletiva de lixo. Para estas cidades, as licitações viciadas para a decoração de natal ainda são necessárias, e na base do quanto mais caro melhor, pois engordam as comissões e propinas dos que vivem disso.

domingo, 21 de dezembro de 2008

Armas de destruição em massa

Nem armas de destruição em massa nem maletas com bombas atômicas desviadas do arsenal da ex-União Soviética; nem carros bomba, mulheres ou homens bomba.

Nada assustou mais o todo poderoso presidente do império do norte, como um velho par de sapatos, de tamanho 42, segundo ele, descalçados ali mesmo, na hora, e arremessados com perigosa e certeira pontaria. Acertariam o centro da testa, não fosse a rapidez, o reflexo instantâneo da quase vítima.

Quase não. Vítima mesmo. A mídia ocidental descobriu rápido, o significado de se atirar sapatos em alguém, na cultura milenar daquele país, a antiga Babilônia de nossos livros escolares. A rica cultura mesopotâmica traz em pleno século XXI, as raízes culturais milenares, que afloraram no gesto de tocar o outro com os sapatos (impuros), e Bagdá, a capital das Mil e Uma Noites, assistiu, com todo o mundo, via satélite, às margens do Tigre, o despertar de sua cultura adormecida.

Sapatos impuros atirados contra o visitante indesejado. Impuros porque tocam diuturnamente o solo dos cemitérios, das prisões, dos cárceres clandestinos onde se tortura e mata. Sapatos que trazem em si o cheiro da morte. Morte que levou um milhão de vítimas inocentes.

Muntadar al-Zaidi, o jornalista iraquiano quis mostrar ao mundo, e mostrou, que seu povo sofrido não perdeu a dignidade. É o mais novo herói do mundo árabe.

E o presidente se despede do mundo, do seu mandato. Sorridente, declarando que o único erro do seu governo foi o serviço de inteligência haver se enganado sobre a existência das armas de destruição em massa.
Ao meu amigo Hassan, um grande abraço.

sábado, 20 de dezembro de 2008

Cuidado com o desperdício de água

Impossível a vida sem água. Quem já sofreu com racionamentos em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, ou até mesmo em Fortaleza, sabe o desespero que é enfrentar tais períodos. No entanto, vinha eu trafegando pelo Parque Santo Antônio, em Itaitinga, nas proximidades da Praça Luiz Gonzaga, quando deparei-me com uma cena inusitada: um homem tinha acabado de “varrer” com jatos d´água a sua calçada e agora molhava o calçamento da rua, na parte em frente à sua casa.
Não pude resistir. Parei e voltei. Educadamente dei bom dia e o alertei para o desperdício da água, um bem de uso comum e que está se tornando escasso. O cidadão, que faltou pouco para partir para uma agressão física, foi afirmando que eu não tenho nada a ver com isto, que está usando água de sua cacimba, e não a água tratada da rede pública, e que a cacimba é sua, e ninguém tem nada a ver com isto. Dando-me as costas, continuou o desperdício da água.Segundo a ONU – Organização das Nações Unidas – uma pessoa precisa de 3,3 m³ de água por mês para atender suas necessidades de higiene e consumo. Isso dá por volta de 110 litros de água por dia. Faz idéia de quanto é o consumo real no Brasil? Chega a alcançar mais de 200 litros/dia. É muita água que vai pelo ralo. Além do desperdício de recursos naturais isso afeta o bolso, já que a conta de água é maior. Veja abaixo algumas dicas para preservar a água e economizar dinheiro:

Um banho de ducha de 15 minutos, com o registro meio aberto, consome 135 litros de água; Reduzindo o tempo do banho para 5 minutos e ainda desligando a ducha para ensaboar o corpo, o consumo cai para 45 litros.

Chuveiro é diferente de ducha. No chuveiro, considerando o mesmo banho de 15 minutos, com o registro meio aberto, gasta-se 45 litros; fazendo a mesma redução citada no item anterior, o consumo no chuveiro cai para 15 litros.

Escovando os dentes, cinco minutos com a torneira não muito aberta consomem 12 litros d’água; se só molharmos a escova, fecharmos a torneira enquanto escovamos os dentes e enxaguarmos a boca com um copo de água economizamos 11,5 litros. Isso faz diferença e não é tão difícil de praticar.

Lavando a louça: 15 minutos com a torneira meio aberta utilizam 117 litros de água; Se primeiro limparmos os restos de comida dos pratos e panelas com a esponja, depois abrirmos a torneira para molhar essa louça, fechar, ensaboar e então abrir a água para enxaguar, o consumo cai para 20 litros d’água. Se tem lavadora de louça, ligue-a somente quando estiver cheia.

A descarga do vaso sanitário gasta muita água, por isso evite acioná-la à toa ou apertar a válvula por muito tempo. Desde 2001 estão sendo fabricadas bacias sanitárias econômicas, que liberam sempre a mesma quantidade de água qualquer que seja o tempo de acionamento da válvula. Se está construindo ou reformando, que tal instalar uma dessas?

Junte bastante roupa suja antes de ligar a máquina ou usar o tanque e evite lavar uma peça por vez. No caso da lavadora de roupa, procure utilizá-la cheia.

Piscinas expostas ao sol e à ação do vento perdem muita água por evaporação – 3.785 litros por mês para uma piscina de tamanho médio. Com uma cobertura, a perda é reduzida em 90%.

Procure usar a vassoura, e não a mangueira, para limpar calçadas e quintais. Quinze minutos de mangueira ligada gastam 279 litros de água.

Lavar o carro por 30 minutos com uma mangueira não muito aberta consome 216 litros de água. Mais meia volta de abertura e o desperdício alcança 560 litros. Se lavarmos o carro com balde gastamos apenas 40 litros.

Pense nisto!

sábado, 13 de dezembro de 2008

Itatinga recebe novamente o Prêmio Município Selo Verde

O Conselho de Políticas e Gestão do Meio Ambiente - Conpam, através do Comitê Gestor do Programa Selo Município Verde, do Governo do Estado, esteve reunido no dia 11 deste mês para divulgar o resultado do programa Selo Verde, versão 2008. Ficou decidido durante a reunião que 42 municípios foram pré-qualificados, 39 estarão recebendo no próximo dia 16, no Centro de Convenções, às 19hs, no Auditório A-400, a Certificação Ambiental Selo Município Verde. Desde já quero dizer que conto com a sua presença.

Este ano, das 110 cidades inscritas junto ao Conselho de Políticas e Gestão do Meio Ambiente - Conpam, no início do ano, 42 chegaram a etapa final, 39 foram certificados e Itaitinga ficou em 15º lugar. Instituído há cinco anos, o selo dispõe de três categorias de premiação: A, B e C. Nunca um município conquistou a categoria A.

O QUE É O PMSV

O PSMV foi instituído pelo governo do Estado do Ceará em 2004, e consistia na entrega de um certificado aos municípios qualificados. Em 2007, por determinação do Gov. Cid Gomes, o Estado premiou pela primeira vez os municípios vencedores. Na entrega do premio, um computador, os prefeitos assinaram um termo, onde destinaram a máquina ao Comdema de sua cidade, que se responsabilizará pelo uso e manutenção do computador doado pelo governo do estado.
O PMSV é uma forma de monitorar os municípios durante todo o ano para que se tenha a certeza de que ações em defesa do meio ambiente estão realmente sendo realizadas.

O PMSV EM ITAITINGA

2004 – O município não participou do PMSV. Gestão Mauro Tavares;
2005 – O município participou e foi certificado com o PMSV, na categoria C. Gestão Abdias Patrício/Paulo Afonso;
2006 – O município participou e perdeu o PMSV. Gestão Abdias Patrício/Alexandre;
2007 – O município participou e foi certificado com o PMSV, na categoria C. Gestão Abdias Patrício/Paulo Afonso;
2008 – O município participou e foi certificado com o PMSV, promovido para a categoria B. Gestão Abdias Patrício/Paulo Afonso.

V SEMINÁRIO REGIONAL DO PMSV/2008 EM ITAITINGA

Itaitinga disputou com Pacatuba e Maracanaú e foi escolhida pelas demais cidades da Região Metropolitana de Fortaleza, para sediar o V Seminário Regional do PMSV em abril de 2008.
Neste seminário as Plenárias foram compostas pelos Secretários Municipais dos 13 municípios, Coordenadores do PSMV nos municípios, membros do COMDEMA, Diretores de Escolas, Professores, Sindicatos, Associações, Imprensa, Instituições Públicas, Agricultores, Igrejas, etc., com um total de 144 pessoas. As Palestras foram ministradas pela coordenadora do Programa, Socorro Azevedo e pela representante do IBAMA, no Comitê Gestor, Glaura Barros. Itaitinga como município SEDE e os Municípios Certificados com o Selo Município Verde em 2007, foram convidados a apresentarem as suas ações ambientais.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

PRA CANTAR MEU MUNDO

“Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, mas não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas”.
(Carlos Drumond de Andrade)

Agora eu sinto que não vai dar certo. Nem devia ter começado. Conheço a realidade que me cerca. Perdi meu tempo, iludi amigos, criei para todos falsas esperanças. 21:34 h. Vou dormir. Acelerar a chegada de uma nova manhã. Não é fuga, era assim que eu fazia quando criança, à véspera do Natal, para que Papai Noel chegasse logo. E ele chegava. Chegava mais rápido. Trazia presentes. Cresci. Presentes não há. Só o presente. Presente duro. Restos do ontem, prenúncios de um mau amanhã.

Amanhã sem razão de ser. Amanhã que soa como passado. Vontade de esperar o ontem, que por certo virá. Ontem eu era livre. Hoje não o sou. Amanhã?

Eu só queria a paz perdida da minha ilha deserta. Sem a casa, sem coqueiros, sem a lua, sem o mar, sem ninguém para enganar. Mas a paz, a paz perdida, a paz reconquistada, mesmo que rota, e ensangüentada, mas um momento de paz.

Sei lá se vou dormir...

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Minha Ilha


Hoje eu queria achar uma nova dimensão da amizade... um mundo novo, onde os sentimentos fluíssem de uma maneira extraordinária... onde a possibilidade de expressar-se sinceramente, existisse... onde o desamor morresse... onde o amor fosse possível, apesar de suas limitações...


Achei um lugar de remanso... um lugar de paz, onde dar é tão possível quanto receber... onde o importante é ser... Achei minha ilha. Uma ilha deserta, onde posso ficar só. Só com o mar, o céu, a lua, um coqueiro, uma casinha...


Aqui posso rir com loucura e chorar de amargura... aqui sinto que vale à pena muita coisa que acreditei perdida... aqui tenho esperanças, coragem, forças... aqui me recarrego de energias para continuar lutando diariamente... e isso me ajuda a ser mais feliz...


Aqui achei uma pessoa extraordinária... aqui achei VOCÊ !!!

terça-feira, 22 de abril de 2008

Violência contra crianças

O tema sempre existiu, nunca como agora.
Nossa mídia está ocupando quase todo o seu tempo para mostrar fatos já mostrados, sobre o bárbaro assassinato da menina Isabela, em São Paulo. Flashes são exibidos e re-exibidos da casa dos Nardoni, da casa dos Jatobá ou da casa dos Oliveira. Claro que estamos todos indignados, mas é necessária a re-exibição, ou a TV deveria aguardar fatos novos para exibi-los?
Mais ou menos à mesma época do cruel assassinato, numa cidadezinha da Região Metropolitana de Vitória, no Espírito Santo, uma menina de 10 anos pulou da janela do seu apartamento no 4° andar. Motivo? Seu pai chegara bêbado e ela já sabia a que tipos de violências seria submetida. Atendida no hospital público, sobreviveu. Com alta médica, foi para a casa da avó. A reportagem das TVs mostrou a menina na casa da avó, em recuperação e o pai preso, na delegacia. A matéria durou cerca de dois minutos e nunca mais se falou no assunto.
Hoje, em um telejornal local, no Ceará, mostrou-se que na cidade de Jardim, na região do Cariri, uma criança de 3 anos foi estuprada e morta por um homem que já está preso. A matéria local durou cerca de um minuto e nada se falou nos jornais ditos nacionais.
Isabela era uma menina de família branca e rica, morando na maior e mais rica cidade do país. As outras duas eram pobres. A capixaba, moradora da periferia de Vitória, numa cidade da Região Metropolitana. A outra, nordestina, pobre, morando numa região pobre de um estado pobre.
Parece brincadeira, mas a situação financeira das vítimas, a cor da pele e a região do país onde mora, influencia no espaço que a mídia dedica à vítima. Lamentável, mas é verdade.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Chuva


Hoje acordei com esta chuvinha persistente que caiu a noite toda e insiste em continuar molhando a minha manhã. Abro a minha caixa de mensagens e uma me chama atenção. Decido começar por ela: AFINIDADE. Eu estava certo. Valeu a pena, começar assim meu dia.
Manhã fria, com nuvens baixas que encobrem a minha serra. Brisa suave e fria que me obriga a vestir roupas que nem quero.
Esta minha brisa leva as nuvens, que envolvem a serra, a rodeiam e escondem, mas deixam-me perceber, no silêncio desta manhã, o murmúrio baixinho, quase um lamento, das águas a escorrer pelas pedras, caindo em pequenas cascatas, seguindo como um riacho, atravessando o meu jardim, onde molho os pés, nesta água gelada, que há pouco estava no céu, na serra, e agora, se infiltra e se perde por entre as folhas do gramado.
A chuva afugentou meu beija-flor, minhas borboletas, meus micos. Esconderam-se todos. Só a mamãe sabiá, não se afastou do seu ninho, onde atenta e assustada, cuida de seus dois filhotes, e nem se abala quando me aproximo e protejo o ninho com um plástico que a protege agora da chuva.
Sentiu que temos AFINIDADE.
Volto molhado. A dor é grande, deixo-me cair na rede, penso em você. AFINIDADE. É isso. AFINIDADE. Eu e você. E a chuva continua.

domingo, 20 de abril de 2008

Salvando Lagoas ou um e-mail cheio de esperança

Fui ver o blog da amiga AURILEIDE e encontrei uma referência a um texto meu, publicado em uma revista de meio ambiente. Resolvi reproduzir aqui, com um comentário meu mesmo, colocado lá. Vale à pena visitar o blog da AURI em aurileide.blogspot.com e deliciar-se com seu TEXTO SENTIDO.

Hoje de manhã (18/12/2006) cheguei pra trabalhar e encontrei minha caixa postal cheia de SPAM. Para minha surpresa, dentre anúncios de porcarias que eu nunca vou precisar e um convite para o Encontro Nacional de Nota Fiscal, um artigo de um amigo meu.Publicado em um revista de meio ambiente, o texto chega a ser poético, se não fosse documental. Paulo Afonso, um jornalista experiente e um ambientalista convicto e praticante tem o dom de transformar em emoção um conjunto de palavras escolhidas cautelosamente.Vivendo em um lugar hostil e de onde a maioria sai com tristeza, ele consegue a proeza de nos mostrar como lá pode ser um bom lugar pra se viver. Como existe esperança e beleza até mesmo no desespero, na pobreza e na isolação. Tenho orgulho de ter conhecido e poder chamar este maravilhoso ser humano de amigo.

1 Comentários

Eita! Assim você acaba comigo. Sou assim, escrevo, escrevo, escrevo. Há outras coisas a fazer. Páro de escrever. Mas aí chega um comentário como este seu e tenho que voltar, pois você me faz acreditar que escrevo. Seu incentivo, sempre presente, foi sempre fundamental.Eu,Ana, os filhos biológicos e os adotados (kkkk) te amamos. Todos enviam beijos.
PAULO AFONSO

sábado, 19 de abril de 2008

Chico Poeta

Chico Poeta era o meu pai. Natural de Ubajara, no Ceará, de onde saiu cedo para Fortaleza, para prosseguir os estudos no Colégio Militar. Foi daí para a Escola Preparatória de Cadetes, ainda em Fortaleza e depois para a Academia Militar do Realengo, no Rio de Janeiro, de onde saiu aspirante à oficial, na arma de infantaria, na turma de 1931. Oficial voltou a Fortaleza, onde serviu no QG da 10ª Região Militar, no 24° Batalhão de Caçadores e no Colégio Militar, de onde foi secretário.
Mas aqui, eu queria prender-me ao seu lado poético e romântico, pois até quero de vez em quando, postar uns poemas seus. Alguns de seus poemas, como "O Carreiro de Estremoz" recebeu música de José J. Carvalho, para canto orfeônico em quatro vozes. Também "Jangadas," escrito em 1927 foi musicado pelo maestro Euclydes da Silva Novo, com pauta para piano e canto. O mesmo maestro musicou seu poema "Canção de Iracema," de 1928, para canto orfeônico em quatro vozes.
Sua veia poética aflora em cada linha de seus trabalhos, onde objetos inanimados ganham vida, voz, alma lírica, como a sua. É o caso de "jangadas que interrogam", da "velha porta a gargalhar", "pedras que sonham indiferentes", ou ainda quando vê o Farol de Mucuripe, como humano, atribuindo-lhe coração e sentimentos.
Mesmo nos difíceis dias em que viveu as crises que nossa história registrou, não permitiu jamais que o seu lado "soldado" endurecesse o coração de poeta apaixonado
Do pequeno Chico Poeta que vendia versos aos colegas do Colégio Militar, em Fortaleza, por alguns trocados para o cinema, ao generalato, no ápice da carreira, nunca deixou de escrever, com muito amor e romantismo, mesmo nos piores dias, para o país ou para o seu coração.
A inspiração e a beleza que afloram em seus versos prendem para sempre os que o lêem pela vez primeira. De onde, de que espírito tão puro, vem tanta beleza? E onde está a beleza da solidão, do inconformismo, do arrependimento, da morte? Disse Anatole France, In Vie Literaire: "Creio que jamais conseguiremos saber, porque motivo uma coisa é bela."
Esta frase, embora vindo de um autorizado artista, não nos obriga a demorar na busca desta certeza. Será a beleza uma coisa objetiva, ou somente uma idéia pessoal, subjetiva? Não sei. O que me basta saber, - nisto não paira sombra de dúvida, - é que todos os corações que pulsam na terra sentem o apelo do belo.
Quando um artista, um gênio, perde toda sua força espiritual e sua alma decai, este ainda poderá assomar à borda do abismo e ser salvo se tiver preservado com ele este único bem: o senso de beleza.
Fui testemunha das inúmeras vezes em que ele ressurgiu exuberante e belo, dos muitos abismos em que teimavam atirá-lo. Inútil, êle retornava, paciente, desprendido, sábio, carinhoso e apaixonado, em busca da nunca esquecida beleza.
Aos que não o conheceram, está em tempo, seus poemas, refletem sua vida. Alternam perspectivas, arrependimentos, inconformismo, fatalidades, aflições, sempre exibindo o belo como alternativa.

Paulo Afonso, em Itaitinga, CE, 21/11/1998.